quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Hamlet (no) FATAL

«Agora estou só, eu, pobre idiota sonhador, impotente para a minha própria causa.
Serei amado? Quem me chama cobarde? Quem me parte a cabeça? Quem me puxa os pelos da barba e me sopre no rosto? Quem me coloca o apódo de mentiroso pela garganta ate chegar aos pulmões? Quem me puxa pelo nariz? 
Tenho o coração de uma pomba. 
É estranho que um filho de um rei assassinado não consiga transmitir por palavras aquilo que vai no seu coração. 
Não represento mais este papel!»
(Citação do espectáculo Pedaços de Hamlet)




Hoje, venho falar-vos de mais um momento muito importante para mim, que foi a ida ao F.A.T.A.L (Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa).

No meu terceiro ano de licenciatura, no meu quinto semestre (que é o primeiro semestre do terceiro ano) tive uma disciplina que se chamava Projecto Experimental e foi nesta disciplina em que me senti mais profissional do que aluno,  como o nome da disciplina indica, é um projecto onde podemos experimentar ideias (já explico melhor), mas quero ainda dizer que esta disciplina foi leccionada pela professora Ana Tamen.

Esta disciplina está desenhada para construirmos um espectáculo à medida que vamos experimentando coisas, ideias, pensamentos ou textos, mas neste projecto ainda fizemos uma outra coisa, para mim, um pouco mais arrojada. O nosso ponto de partida foi a cenografia e não um texto. Como fazia 400 anos da morte da Shakespeare, decidimos homenageá-lo trabalhando a peça Hamlet. Mas como queríamos que o nosso ponto de partida fosse a cenografia, não começamos pelo trabalho de mesa que se faz sempre, onde lemos e relemos o texto, onde discutirmos o que se passa em cada cena ou até onde comparamos traduções, mas sim, que ideias cenográficas tínhamos para este texto, que materiais queríamos utilizar, onde o queríamos apresentar e por ai fora. Para tudo isto tivemos a ajuda do professor Luís Santos, que é quem lecciona as disciplinas de Figurinos e Cenografia.


Chegamos então a conclusão que queríamos que a cenografia fosse constantemente uma teia de aranha, onde o Hamlet estava constantemente preso. E está ideia porque? Porque a nossa vida, tal como a de Hamlet, é uma teia de aranha onde estamos constantemente presos a problemas, enganos, mentiras, guerra, roubos... Decidimos, ainda, que iríamos fazer as teias de aranha com charriot's e uns fios elásticos, presos de um lado ao outro do charriot. Tivemos a liberdade para escolher com que pessoas, da nossa turma, queríamos trabalhar, que partes do texto e até podíamos fazer excertos da peça Hamlet Machine de Heiner Müller. O espectáculo ganhou o nome de Pedaços de Hamlet, por ter sido construído por partes e por termos descoberto que a personagem Hamlet estava interiormente em pedaços. Demoramos o semestre praticamente todo a construir este projecto e no dia 28 de Janeiro estreamos em Évora.

Peça feita por Gil Ferrão

Como indica o início deste texto, eu venho falar-vos da minha experiência no F.A.T.A.L, onde levar este projecto foi para mim deliciosamente bom. Carregámos as carrinhas em Évora com o nosso material de cenários e lá viemos nós em direcção a Lisboa! Ficámos hospedados num Hostel ao pé da rotunda do Marquês de Pombal, mas o mais importante para mim, era ter a possibilidade de representar no Teatro Municipal São Luíz, isso foi o mais importante. Fizemos ensaios gerais, de luz, de som. Vi os técnicos de um grande teatro, para mim é um grande teatro, a trabalhar, a montar e desmontar luz e isso impressionou-me muito, a facilidade e a rapidez com que o fazem é de louvar!

Chegou o grande dia, o dia em que íamos apresentar, aquele era o nosso dia e eu estava muito orgulhoso, orgulhoso por mim, pelos meus colegas por ser aquele projecto e aquele texto, por ser com aquela professora, por tudo! Eu estava muito orgulhoso mesmo, tudo aquilo era o culminar do que eu tinha vivido durante a minha licenciatura e isso fez-me muito feliz.

Nunca tinha estado num camarim tão grande, mas quando entrei em palco, pisei aquelas tábuas, senti o cheiro do palco e pensei "A partir de agora, vou me divertir, vou fazer este espectáculo com o maior gozo possível" lembro-me perfeitamente de pensar isso e foi exactamente o que fiz. Não acusei a pressão de estar ali, em frente aquelas pessoas todas e diverti-me ao máximo. Vai ser sem duvida uma experiência que transportarei comigo para sempre!



Fotografias: Luís Santos e Gil Ferrão



Uma Didascália
por Miguel


1 comentário:

  1. Nossa que lindas suas palavras. Um artista vibrante que reconhece o quão importante foi este processo. Parabéns Miguel!

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