sábado, 30 de dezembro de 2017

O Palácio do Fim

O tempo não pára, posso neste preciso momento dizer-te que consigo ouvir como barulho de fundo o som do relógio que calmamente fala comigo no seu som monocórdico de sempre. Ele nunca pára, como é que ele consegue nunca parar? Como é que ele consegue ser perfeito a cada milésima de segundo, sempre igual, sem falhas. Porque é que ele não falha? Porque é que eu giro à volta dele e ele me faz falhar tantas vezes, a mim e a ti, e mesmo assim ele nunca falha com ele próprio.

Porque é que o mundo não pára? Ou porque é que me obriga a não parar?

EU QUERO PARAR! Grito interiormente a cada segundo em que o relógio se aproxima cada vez mais de mim. Porque é que tu não me deixas parar quando eu não consigo continuar mais?
Mas continuo. E tu também continuas. Mesmo com a tua mente a gritar “EU NÃO POSSO MAIS”, nós continuamos, continuamos a fingir que vivemos vidas suportáveis, continuamos a fingir que somos todos capazes, continuamos a fingir que aguentamos, continuamos a fingir que somos máquinas. E na verdade, não será que nos tornámos nelas? 

O mundo não pára para tu chorares. O mundo nem sequer quer saber se tu choras. O mundo não pensa em ti. O mundo nem sequer sabe quem tu és. O mundo exige de ti. O mundo precisa de ti. Mas para quê, se somos todos pessoas perdidas no tempo a jogar ao faz de conta? 


Sartre dizia que “O inferno são os outros.” Não, o inferno é o tempo dos outros




Uma Didascália
por Carolina