O tempo não pára, posso
neste preciso momento dizer-te que consigo ouvir como barulho de fundo o som do
relógio que calmamente fala comigo no seu som monocórdico de sempre. Ele nunca
pára, como é que ele consegue nunca parar? Como é que ele consegue ser perfeito
a cada milésima de segundo, sempre igual, sem falhas. Porque é que ele não
falha? Porque é que eu giro à volta dele e ele me faz falhar tantas vezes, a
mim e a ti, e mesmo assim ele nunca falha com ele próprio.
Porque é que o mundo
não pára? Ou porque é que me obriga a não parar?
EU QUERO PARAR! Grito
interiormente a cada segundo em que o relógio se aproxima cada vez mais de mim.
Porque é que tu não me deixas parar quando eu não consigo continuar mais?
Mas continuo. E tu
também continuas. Mesmo com a tua mente a gritar “EU NÃO POSSO MAIS”, nós
continuamos, continuamos a fingir que vivemos vidas suportáveis, continuamos a
fingir que somos todos capazes, continuamos a fingir que aguentamos,
continuamos a fingir que somos máquinas. E na verdade, não será que nos tornámos nelas?
O mundo não pára para
tu chorares. O mundo nem sequer quer saber se tu choras. O mundo não pensa em
ti. O mundo nem sequer sabe quem tu és. O mundo exige de ti. O mundo precisa de
ti. Mas para quê, se somos todos pessoas perdidas no tempo a jogar ao faz de
conta?
Sartre dizia que “O
inferno são os outros.” Não, o inferno é o tempo dos outros.
Uma Didascália
por Carolina
0 comentários:
Enviar um comentário